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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Lenda do João de Barro


    Conta uma lenda indígena que, há muito tempo, numa tribo do sul  do  Brasil,  um jovem apaixonou-se por uma moça de grande beleza. Melhor  dizendo: - apaixonaram-se. Jaebé,  o moço,  foi pedi-la em casamento. O  pai dela perguntou: - Que provas podes dar de sua força para pretender  a  mão da moça mais formosa da tribo? As provas do meu amor! - respondeu  o  jovem. O  velho gostou da resposta mas achou o jovem  atrevido.  Então disse: - O último pretendente de minha filha falou  que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia. Eu digo que  ficarei  nove  dias  em  jejum  e  não  morrerei. Toda a tribo se espantou  com  a  coragem  do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse  início  à  prova.  Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram  dia  e  noite  vigiando  para  que  ele  não saísse nem fosse alimentado.  A  jovem  apaixonada  chorou e implorou ao deus Lua que o mantivesse  vivo  para seu amor. O tempo foi passando. Certa manhã, a filha pediu ao pai: -  se passaram cinco dias. Não o deixe morrer. O velho respondeu: - Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver  o  que  acontece.  E esperou até a última hora do novo dia. Então ordenou: - Vamos  ver o que resta do arrogante Jaebé. Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seu olhos brilharam, seu sorriso tinha  uma  luz  mágica. Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro! E exatamente naquele  momento,  os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também  se  viu  transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás  de  Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceu para sempre. Contam  os índios que assim que nasceu o pássaro joão-de-barro. A prova do grande amor que uniu esses  dois jovens está no cuidado com que  constrói  sua  casa  e  protegem  os filhotes. E os homens amam o joão-de-barro porque lembram da força de Jaebé, uma força que vinha do amor e foi maior que a morte.

Referência bibliográfica: MEYER, A., Guia do Folclore Gaúcho. Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint S.A., p.64.