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terça-feira, 7 de outubro de 2014

Caboclo de Lança: Ritual e mistério do brincante do Maracatu Rural

"O caboclo de lança é personagem do Maracatu Rural ou de Baque Solto – também conhecido como Maracatu de Orquestra. A origem desse maracatu ainda não está totalmente desvendada. Uma parte dos pesquisadores é unânime em admitir a mistura das culturas afro-indígenas; outra, como resultado de manifestações populares – cambinadas, bumba-meu-boi, cavalo-marinho, coroação dos reis negros, caboclinhos, folia de Reis – existentes no interior de Pernambuco. 
(...)
O ritual que antecede a apresentação do caboclo de lança, quer no interior quer na cidade, envolve cerimônias que acontecem em terreiros, como a benção das lanças e da flor que carregam na boca, a consagração da Calunga (boneca representando a divindade, levada pela baiana), e a abstinência sexual dos homens, que começa alguns dias antes do carnaval. Bonald Neto (1991, p. 284) transcreve informações retiradas da entrevista realizada por Evandro Rabello com o caboclo de lança, Severino Ramos da Silva, de Goiana, que explica:
[…] os caboclos saem protegidos tanto pela “guiada” (a longa lança de madeira) […] como pelo “calço” espiritual […]. É o ritual da purificação […] que apóia o caboclo disposto a sair num Carnaval. […]
Por isso, antes de sair já na 6ª feira, começa a abstinência que faz o Caboclo, até a 4ª feira de Cinzas, não mais procurar mulher, nem tomar banho ”para não abrir o corpo”, obrigando-o a dormir mesmo sujo como veio da rua.
Na hora que vão sair no primeiro dia todos vão para a “mesa”. O Mestre faz um preparo que se bebe com uma flor dentro do copo e mais três pingos de vela santa.
Aí então o Mestre autoriza a saída do caboclo. Muitos saem com um cravo branco ou rosa na boca ou no chapéu para “defesa”, para fechar o corpo […].
[…] a “rua” é sempre o exterior perigoso e repleto de riscos ocultos. Quem anda pelo “meio da rua” precisa estar “preparado” e protegido de todo o mal. Por isso os caboclos  tomam o “azougue”  [violento coquetel de pólvora, azeite e aguardente], preparado pelo Mestre. […]
Ao voltarem, na quarta-feira, vão logo à Igreja tomar Cinzas e “se despedirem” de alguma coisa errada feita no Carnaval."
Escrito por Virginia Barbosa, extraído do site https://alfaiaria.wordpress.com/